quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mulher


















O relógio antigo de madeira envelhecida,
Pelo tempo que o ilude de vida,
Lamenta-me o entardecer dos dias.
... É sempre tarde!
Quando o sol me desperta para quem sou…
Corro para o espelho, em busca de um rosto jovem
Que descanse um pouco na suavidade hidratante
Das minhas mãos cheias de água corrente…
Como se fosse possível fazer parar um rio nas rugas da idade,
Ou lavar a historia da própria Humanidade.
Das tranças da minha infância
Recordo apenas os sonhos, que subiam por elas
E me ensinaram a esperar mais da vida
E a dar Sempre mais e mais… de mim,
Aos outros (supostamente iguais).
E penso: Os Outros!
Então… enxugo os pensamentos na manta de retalhos
Que “eles” fizeram com as horas dos meus dias.
Volto a correr de braços estendidos em direcção á mãe
Que nasceu na era em que o meu ventre quis ser futuro.
E faço dos meus braços asas e voo sobre os muros,
E faço dos meus olhos esperança e conto estrelas brilhantes
Nos céus mais escuros.
De repente… chamam por mim
Gritam sempre pelo meu nome em outro lugar…
Onde a idade pesa,
Onde a saúde falta,
Onde é preciso levar alguém pela mão
Onde o saber urge na escola da vida,
Que não ensina que existe trabalho
Que não é profissão!
E todo o conhecimento e experiencia
Desta operária de emoções,
Se misturam em conflito
Por entre livros e universidades
Num século de oportunidades
Que me escorregam pelas mãos!
E tenho de estar onde não estou,
Saber o que não sei,
Ser o que não sou!
É sempre tarde, para ser Mulher!
Mas quando o sol se despede anunciando a partida,
Esperam ainda que o espelho reflicta a minha beleza!
E de cabeça sempre erguida mas com os olhos lassos de tristeza,
Olho de novo o relógio antigo de madeira envelhecida,
E sinto que não sou eu que dou corda á minha vida!


ana homem de albergaria

terça-feira, 1 de novembro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Pai - poema e voz de Ana Homem de Albergaria

http://www.youtube.com/watch?v=Yhf-W9_tyr8

sábado, 8 de outubro de 2011

Ponto final















Revisito as tuas palavras
Um número de vezes
Que tende para o infinito.
E nesse infinito de buscas,
Num papel que perfumei
Com a ilusão,
Não encontro bálsamos,
Nem sequer vestígios
De mim…
Tenho de me encontrar
Em algum parágrafo,
Tenho que estar em alguma sílaba,
Em algum acento grave!
Quem sabe numa virgula…
Tenho que me encontrar
Na semântica
Que ainda não vivi
E que me falaria
Do afecto
De ti,
Um ponto final, porquê?
Antes da palavra Amor
Que ainda não escrevi?!



ana homem de albergaria

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Falar ao mar




















Estou aqui… mar imenso
Falarei a linguagem das sereias
Escuta…
Acalma-te um pouco,
Serena-me as memórias
Que navegam na historia
Da infância do meu país…
Sim… mergulhou em ti a alma lusitana
E tantos povos em ti naufragaram…
Mas Hoje queria apenas este reencontro…
Escuta…
Onde estão os sonhos profundos
Que construíram as caravelas quinhentistas?
E que ondas as levaram a outros mundos?
Sabes me dizer, oh mar altivo,
Indestrutível ser!
Desfaleceu a coragem do meu povo,
O Adamastor está ainda mais monstruoso,
Nunca o adormeceste, porque?
Oh mar revoltoso!
Preciso saber …
Vá… Só hoje,
Fala-me da tua coragem
Da tua força,
Da tua irreverência…
Dos tesouros da tua profundidade…
Ensina-nos a tua transparência
Para que se contemplem pérolas
No coração dos Homens
De boa vontade…
Nesta ilha em que se tornou
A Humanidade.
Aqui em terra,
Os meus pés já não sabem
Por onde ir…
Precisamos de começar tudo outra vez
Já não existem rotas por descobrir
Afundaram-se as utopias
Gaivotas perdidas em marés tardias.
Oh, Mar inspirador de poetas
Universo de vidas submersas
Desenha, já é tempo, novos mapas
Sê tu a Bússolas que nos guia
Para fora desta ilha de escarpas.
Veste-te hoje, majestoso infinito,
De verde esperança
Sê para este povo
Um mar de bonança…
Mas se for preciso
Oh mar de além-mundo
Se for preciso voltar a ser Fado e Dor,
Saudade ou luto profundo,
Seja!
Que nos arda a alma com o teu Sal,
Se preciso for,
Para
Redescobrir Portugal!



ana homem albergaria

sábado, 10 de setembro de 2011

Saber Amar












Não importa o que fomos
Por um momento
Importa o que recordamos
Por toda a vida
Importa viver intensamente
... Cada chegada após a despedida!
Importa agradecer, não só pedir!
Importa ver profundo, não só olhar.
Importa lutar, não desistir
Importa dar de nós, não só esperar.
Importa escutar, não só ouvir.
Importa perdoar, não desculpar.
Não importa o que fomos
Por um momento
Importa só saber AMAR!


ana homem albergaria

quinta-feira, 8 de setembro de 2011















Ai …
se eu hoje Ousasse
escrever um poema!
As palavras iriam fugir
Da minha voz
Como gritos ensurdecedores
Como espadas
Rasgando credos milenares
Como Fés caídas
Em igrejas destruídas
Voos presos
Em poluídos ares
Mãos ásperas
A tocar em feridas.
As palavras
Do meu poema
Não poderiam falar
Da Humanidade
Nem de justiça
Nem de esperança
Nem de igualdade!
O meu poema
Seria uma Mentira!
Como as bocas
Que apregoam a harmonia
E se abrem só para ferir
Cantando fora de tom
A irónica cobardia.
Se eu hoje ousasse escrever um poema…
Seria tão ridículo… tão ridículo
Como a hipocrisia!



Ana Homem Albergaria

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Adormecer

















Deixem-me voar para longe daqui
Não me roubem o vento
Que me veleja a alma…
Há um futuro de outro tempo
Onde quero chegar… só!
Comigo mesma quero ficar…
Calada… num silêncio gelado!
Só estas palavras pretas podem gritar
Como uma criança insegura num cavalo alado…
Sou o luto de um sentir já sem viver,
Sou hoje um rio em cascata
Onde o coração mergulha
Para se perder…
Deixai-me remar sem remos,
Nadar sem braços,
Morrer na morte dos
Medos medonhos.
Deixai-me, vos rogo,
Sonhar sem sonhos!
Deixai-me esquecer
De esquecer de mim;
Façam silencio…
Quero só adormecer…
Nesta noite escura
Que hoje não tem fim!



ana homem de albergaria
imagem de pintura da mesma autora

terça-feira, 19 de julho de 2011

Apresentação livro S. J. Madeira























































Apresentação do Livro "Silênciosas Alvoradas, 15 de Julho de 2011.
Agradeço a todos os que contribuiram para tornar esta noite tão especial...



Bem hajam!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Artesão de Memórias...
















fonte da foto:http://www.terrabrasilimagens.com.br/site/araquem.php



Que desejas tu,
Artesão de memórias?
Parar o tempo…?
É uma Quimera… tu sabes!

Redimensionas o espaço,
Num gesto de submissa liberdade,
Rebeldia doce em busca
Da nova realidade!

Não queres copiar o Real… eu sei!
Cristalizas os efémeros segundos
De um relógio movido a Luz,
E assim depuras a vida,
Em ângulos de cumplicidade
Com a tua própria verdade.

O autêntico só existe
Na medida em que partilhas com ele
A sublime essência,
da profunda emoção,
de quem vive o “agora”
No ato da própria criação.

E assim,
Reconstróis segmentos
De um mundo
Em constante evolução.

Com olhar profundo
De quem está atento…
Vais segredando o Belo subtil
De um Céu luminoso,
Ou de um dia quase a chegar…
Um abraço…
Uma flor…
Uma ave a voar,
Árvores centenárias,
Ou um sol a despedir-se
Na linha do mar.

Até mesmo um rosto cansado …
Gritando as injustiças mais duras,
Os prazeres mais mundanos,
Ou as dores mais escuras!

Janelas…
Pontes para a interioridade,
Foto-imagens
Da tua própria vontade.

Obras de arte
Nascem dos teus olhos,
Criador de Nuances e Contrastes,
Imortalizador de traços
Da linha da vida
De um lugar
De algo
ou de alguém…
E na tua própria historia
Pois eras lá também!

E os aromas e os sons…
O frio e o calor…
Que viveste nesse ardor
De querer falar com os olhos,
Ficam para nós como os sonhos,
Universo de possíveis,
Que iremos desenhar.

Tu elegeste do mundo
O que querias revelar.
E revelaste em cada imagem
- Fotografo artesão de historias -
Flashes da tua vida,
Qual Historiador de memorias.

ana homem de albergaria
08 de Julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A secreta viagem














(pintura de ana claudia albergaria)


A Secreta Viagem

No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada...
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa...
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos...
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa...

Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!

Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos.
— Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!

(David Mourão-Ferreira)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011

JA FUI..............















Já fui olhos semicerrados,
Em busca de uma ilusão.
Na noite escura da alma
Fiz-me lua misteriosa
E iluminei, sem luz própria,
A minha própria razão.
Já fui mãos inconformadas
Agarrando um violão,
Fiz já vibrar muitas cordas
Na dor do meu peito aberto,
Para um mundo de injustiças
no refrão de uma canção.
Já fui quem chorou pelo tempo
Da juventude perdida,
Mas fiz clones desses anos
Procurando no meu espelho,
As flores que no meu cabelo
Ainda me falam da vida!


ana homem albergaria

terça-feira, 31 de maio de 2011

EM LOUVOR DAS CRIANÇAS
























Em Louvor das Crianças...



Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.

Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

sexta-feira, 13 de maio de 2011

SABEDORIA





















SABEDORIA
pintura de ana homem de albergaria
exposição: humanidades

quinta-feira, 5 de maio de 2011

ESPERANÇA




















ESPERANÇA
Pintura de ana claudia albergaria
Exposição: Humanidades

SAUDADE
















SAUDADE

Pintura de ana claudia albergaria

Exposição: Humanidades

AMIZADE











AMIZADE


Pintura de ana claudia albergaria

Exposição : Humanidades

quarta-feira, 4 de maio de 2011

CRIATIVIDADE



















CRIATIVIDADE

Pintura de ana claudia albergaria

Exposição : Humanidades

ESPIRITUALIDADE




















ESPIRITUALIDADE


Pintura de ana claudia albergaria

Exposição: Humanidades

terça-feira, 3 de maio de 2011





















Acrilico sobre tela / ana claudia albergaria
Exposição:Hmanidades

CORAGEM





















"Coragem"


Acrilico sobre tela / ana claudia albergaria

Exposição: Humanidades

AMOR


















Amor


Pintura de: ana claudia albergaria

Exposição: Humanidades


segunda-feira, 2 de maio de 2011

















No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15/10/1929
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

quarta-feira, 27 de abril de 2011



















O tempo já não soma
O espaço não existe
Não importa em que cais irei sair
Na viagem dos pensamentos,
Sei apenas que vou
Por onde eles querem ir.
Já não importa se termina o dia
Ou se a noite é clareada
Pela enigmática lua
Serei eu a triste sombra
Daquela que outrora foi tua?!
Sei que sou hoje o que sou
Despida do que não quero ser
Visto-me de ilha deserta
Onde as ondas vêm morrer…
Não importa se é inverno
Ou se a Primavera chegou
Sou como um verão sem frutos
Um sol que nunca brilhou…
Durmo com a solidão
Olhando o céu, ao relento
Não importa se é dia ou noite
Importa que Eu seja Eu,
não me curvando ao vento!



ana homem de albergaria

(imagem de pintura da mesma autora)

domingo, 17 de abril de 2011

Humanidades - inauguração

















Momentos especiais... só se vivem quando partilhados

com pessoas especiais...

obrigada a tod@s os amigos que partilharam comigo

mais um momento de felicidade,

a inauguração da minha exposição "Humanidades",

ontem em Vale de Cambra.


Abraço carinhoso para tod@s

ana claudia albergaria

segunda-feira, 4 de abril de 2011

EXPOSIÇÃO PINTURA - HUMANIDADES


HUMANIDADES

EXPOSIÇÃO DE PINTURA

DE: ana claudia albergaria, Inauguração 16 de Abril de 2011, 11.00h, Biblioteca Municipal de Vale de Cambra

domingo, 6 de março de 2011
















(Pintura de: ana homem de albergaria)


Um coração silencia-se
Na espera da alvorada do sentir,
Tempo de tinta permanente,
Contínua e excelsa força
Que nos esboça o existir.
Virei estátua num jardim á beira mar,
Senti a brisa num rosto imóvel
Oposto á força do devir.
De olhos postos no horizonte
Vivi cada olhar, cada barco que passava…
Efémeros segundos de um pouco de tudo
De uma viagem feita de quase nada.
Um violino partido me acordou
Chorava… pela clave de sol assim perdida,
Não consegui unir as suas cordas
Não soube ser braço...
Nem arco... na partida.


ana homem de albergaria

quinta-feira, 3 de março de 2011

CONVITE - ENCONTRO COM A AUTORA

















Encontro com Autores

Este domingo, 6/Março pelas 18h30, tem lugar no Clube Literário do Porto, a sessão "Encontro com Autores",organizada pela Editora "Edita-me", sendo que nesta sessão, estará presente a autora Ana Homem de Albergaria, com a sua obra Silenciosas Alvoradas.

Estão tod@s convidados!

Apareçam...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011














(Imagem: pintura de ana homem de albergaria)



Quero a paz da criança que dorme
Sem saber das guerras,
E da mãe que cria o filho
Sem medo da fome e do frio
Sem procuras nem esperas.
Quero a paz de uma igreja
E de um coral a cantar.
A paz de um crente em Deus
Que une as mãos a orar .
Quero a paz que nasce aqui
Neste grito mudo ao mundo
A Paz que ficou suspensa
Numa estalactite branca
De um sonho bem profundo.
Quero a paz de outra vida
De um passado ancestral,
Da vida que regressa á vida,
Da memória universal!





ana homem de albergaria

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Minha irmã




















Só eu sei
Desta dor que me devora a alma
De não ser capaz de te dar um poema.
Um poema verdadeiro, Sabes?
Daqueles em que as palavras voam
Livremente pelo passado,
E regressam a nós pela brisa da saudade.
Sim, saudade,
Essa senhora altiva e sofredora
Que viaja na máquina do tempo,
Sem envelhecer,
Sem se render,
E te traz de novo para mim,
Rompendo o silencio
Que te fez cedo adormecer.
A morte não venceu!
Não vence nunca quando luta
Com um coração repleto de amor,
Como é o teu!
Ela apenas adormeceu contigo
E quando acordar não te vai ter!
Será apenas a morte da nossa dor
Que vai ver-se a si própria morrer!
Hoje sinto o peito apertado.
Um remorso antigo,
Me faz chorar agora.
Mereces tanto este poema,
Que não se deixou escrever
Em décadas sem ti,
Tendo-te aqui,
Bem no centro do meu querer.
Fazer um poema para ti
É como querer guardar o mar
Num frasco de perfume,
Ou querer apagar um fogo
Acendendo outro lume.
É dizer que te amo hoje mais,
E é mentira!
Porque te amei sempre assim
Desde épocas ancestrais…
Desde aquele Outono
Da tua juventude.
Desde o Adeus ao teu filho,
Desde o nascer dos nossos pais.
Porque Foste fé…
Na infância do sonho mais puro
Desenhado na esperança de um filho.
Promessa doce, de um doce futuro.
Minha querida irmã…
Água cristalina de um rio sempre a correr,
Oásis num deserto quente,
Onde floresce a sede da vida por viver.
Queres ficar neste poema?
Assim… tão simplesmente desnudado,
Como o meu sofrer?
Eu quero ficar contigo,
A voar nas palavras
Que não chegam nunca
Para te descrever…



Ana Homem de Albergaria

terça-feira, 25 de janeiro de 2011



























Hoje
Vou dar-te outra vez a minha mão,
E entrar na canoa onde me esperas
E deixar que me leves
Sobre o lago verde
Onde borboletas azuis e libelinhas
Nos cantam um voo de sonhos
Ao redor de flores
Que foram minhas.

(...)


ana homem de albergaria





quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sentar-me ao meu lado




















Um dia
Vou sentar-me ao meu lado
E ouvir tudo
o que tenho para me dizer.
Não vou falar comigo,
Não me vou interromper…
A primavera não (re)nasce,
Antes do inverno se ter!
Vou ficar perto e distante,
E fingir não me saber.
Ver-me em mim ali diante,
Para melhor me entender.
Vou por uma música calma,
Sons de golfinhos e mar,
Aproximar-me mais de mim
Abraçar-me e chorar!
E o meu peito vai sofrer
O que não consigo falar.
Depois,
Vou passar as mãos nos meus cabelos
E sentir que são as mãos de minha mãe.
E ver o seu sorriso a nascer
Quando me dizia serena:
Tudo passa, isto é viver!
Por fim…
Vou olhar bem nos meus olhos
Sem nunca os desviar
E vou encarar de frente
O que tenho de mudar.
Vou ler para mim própria
Um poema de Andrade
E ver nas palavras dele
Muita da minha verdade.
E assim vou-me afastando
De mim para me encontrar.
Abrir espaço ao Amor
Receber e saber dar.
Levantar-me decidida
A pintar uma nova tela
Com cores de uma nova vida
Para depois Viver nela!


ana claudia albergaria

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

ENTREVISTA EM VALE DE CAMBRA

Entrevista publicada no jornal a Voz de Cambra, no seguimento da sessão de apresentação do meu livro nessa cidade onde vivi durante 23 anos,realizada pela Drª Cristina Maria Santos ,jornalista.

















- “Silenciosas Alvoradas” foi o seu primeiro livro editado de poesia. Como descreve este livro?

Não é fácil para mim descrever o meu livro, talvez porque ainda não me apropriei dele como um todo. Será claramente mais fácil falar dos meus poemas, que já existiam muito antes de se transformarem num “livro”. E sobre eles, o que posso dizer é que são, sem duvida alguma, o reflexo de sentimentos maioritariamente ligados ás relações humanas, aos laços que me unem aos actores principais da peça da minha vida, como foram os meus pais, como é o meu filho… a minha família e, enfim, os meus verdadeiros amigos. Assim, falam muito por mim e de mim, mas também do que os outros significam para mim e do que quero significar para eles. O que fui, o que sou e o que quero ainda vir a ser, está nitidamente presente neste livro. Penso que é um livro muito auto-centrado nesse sentido. As alegrias, mas também os desânimos, as conquistas mas também as perdas, estão lá. Depois a responsabilidade que temos, perante a humanidade, de contribuir para um mundo melhor … livre de injustiças e de juízos de valor que em nada nos enaltece enquanto seres humanos. Por isso incluí também um ou dois poemas dedicados a quem vive á margem da sociedade, dessa mesma sociedade, que sem dúvida alguma, somos todos nós. Tudo isto escrito de uma forma que considero simples, espontânea, assumidamente despretensiosa, acessível a todos os que gostam de poesia, ou não. É um livro que fala de coisas profundas através de uma escrita leve, que eu gostaria que se transformasse numa boa companhia para o leitor. É uma partilha!

- Como foi partilhar as suas duas paixões: a pintura e a poesia num só espaço? E na terra onde viveu 23 anos?

Foi maravilhoso, uma tarde que ficará arquivada na minha memória no recanto das sensações mais preciosas. Não foi a primeira vez que partilhei a minha pintura e poesia no mesmo espaço, já fiz isso antes, em exposições que tenho realizado no Porto. Mas de facto aqui foi a primeira vez, e foi diferente. E foi diferente porque é aqui que tenho as minhas raízes, a minha família, os amigos que me viram crescer e que estudaram comigo nestas escolas. O espaço em si não faz a diferença, o que faz a diferença são as pessoas que o ocupam e a forma como o vivem e o partilham. Ser aqui em Vale de Cambra, significou retroceder no tempo e rever até pessoas que já não via há alguns anos, embora venha com muita frequência a Vale de Cambra a verdade é que nem sempre gerimos o tempo de forma a dar atenção ao que de facto é importante, ou seja, usufruir de tempo de qualidade com as pessoas que gostamos. Depois… senti também que muitas pessoas ainda não conheciam este lado da minha personalidade mais virado para as artes e para a escrita, por isso foi extremamente gratificante dar-lhes a conhecer um pouco mais de mim. Aqui senti-me mais perto dos meus pais, dos meus avós, das minhas origens. Fui extraordinariamente bem recebida, acarinhada mesmo! Senti-me em casa. É com muita gratidão e com uma grande honra que deixo este humilde contributo ao nível da cultura escrita, e da poesia em particular, nesta cidade onde cresci.

- Se lhe pedisse que pintasse uma tela sobre Vale de Cambra, como seria? E se lhe pedisse que escrevesse uma poesia, que nome lhe daria?

Se pintasse uma tela, o que vou fazer com toda a certeza, teria certamente muito verde amarelo e lilás (as cores da serra), e relevos fortes. Teria também de transmitir serenidade, que apesar de ser uma Cidade ainda me transmite essa serenidade. Teria de revelar a conciliação perfeita entre a tradição e o desenvolvimento, o rural e o urbano. Não pinto paisagens, normalmente, mas teria de conseguir uma forma de falar um pouco da paisagem construída e muito da paisagem natural que torna este Vale único e especial. E pincelar tudo isto com uma grande dose de respeito, amor e … uma certa nostalgia. A poesia sobre Vale de Cambra teria o nome de “Existe um Vale…”.

- Exerce a sua profissão de socióloga numa ONG Europeia, na área da luta contra a pobreza e a exclusão social. O que tem transmitido desta luta para as telas ou para a escrita?

Directa ou indirectamente transmito sempre algo dessa luta. Nos meus quadros são menos perceptíveis as mensagens que tento transmitir a esse nível, mas refugio-me muitas vezes em cores fortes (não necessariamente garridas) e no preto, quando quero falar das injustiças e da revolta que é saber que existem pessoas a viver sem a dignidade que merecem. Já participei, por exemplo, num encontro europeu de pessoas em situação de pobreza, em Bruxelas, através de uma pintura minha que revelava precisamente alguém atrás de umas grades, espelhando assim a prisão que é viver em pobreza e/ou ser vitima de exclusão e de preconceitos. Quanto à poesia, é um veículo privilegiado para esse efeito, pelo menos para mim é. Porque a poesia não tem de ser sempre suave e bela, pode também ser um grande transmissor de convicções fortes e recorrer-se, por exemplo, á própria ironia, para gritar alto sobre o que é preciso mudar. E eu tento fazer isso!

- O que descobriu primeiro, a pintura ou a escrita ou ambas ao mesmo tempo? Consegue concilia-las no seu dia-a-dia? O que as distingue?

É difícil saber o que descobri primeiro, porque desde muito pequena adorava desenhar e escrever, acho que cresceu comigo. Foi um processo natural, até porque os meus pais, embora com poucas habilitações escolares, também apreciavam tudo o que era arte. Nomeadamente a escrita, sobretudo o meu Pai, e o desenho, especialmente a minha mãe. Pelo que faz parte da minha forma de comunicar desde criança. Quem sabe foram elas que me descobriram a mim?!
Relativamente á conciliação entre a pintura e a poesia, não só as consigo conciliar como até considero que se relacionam numa simbiose perfeita. Por isso mesmo recorro frequentemente aos meus poemas para legendar os meus quadros.
O que distingue a minha pintura da minha poesia é apenas a forma. Em ambas exteriorizo os meus pensamentos e vivências. O traço que mais as une é o amor com que as realizo.

- Em que se inspira para escrever e pintar?

Inspiro-me na vida, e como já disse, inspiro-me fundamentalmente nas pessoas que me rodeiam. Nós não vivemos isolados, mesmo que nos fechemos num quarto eternamente, o mundo é feito de pessoas e das relações de amor, ou desamor, que estabelecem entre si. Por isso inspiro-me muito no Amor, nos diferentes tipos de amor que podemos sentir. Pela poesia imortalizo, através da palavra escrita, de forma simples e perceptível, momentos ou memorias que não quero perder, assim como sonhos que quero concretizar, ou valores que preciso transmitir. Pela pintura revisito tudo isso, de uma forma mais abstracta, menos organizada, menos pensada. Com pinceladas livres, e por vezes descontroladas, esqueço a preocupação de saber se os outros vão entender o que quero transmitir, porque na minha pintura o que vale (para mim) é o momento.

- Já tem em mente algum projecto futuro?

Sim. Não sei viver de outra forma. Tenho sempre de estabelecer metas para a minha vida, e os pequenos projectos ajudam-me a concretiza-las. Em breve sairá um livro onde encontrarão também alguns poemas meus, numa colectânea de poesia de vários poetas que tenho o privilegio de conhecer e com os quais participo em tertúlias e sessões de poesia com frequência; pretendo fazer, pelo menos uma exposição de pintura em 2011, o que gostaria muito que acontecesse aqui em Vale de Cambra, e enfim… outros sonhos, ou desafios, que vou tecendo, como voltar á musica, continuar a aprendizagem a este nível, iniciei-a na infância mas não foi possível continuar. E até experimentar o teatro. Adorava! Afinal, pelo sonho é que vamos!

- Como gostaria de, um dia, ser recordada, como pintora ou escritora, ou ambas?

Muito sinceramente nunca pensei nisso. Não é porque escrevi este livro que me considero escritora, nem porque já fiz várias exposições de pintura que me considero pintora. Por isso não faço questão que me recordem como uma coisa ou outra. O que gostaria que me recordassem, um dia, o meu filho, por exemplo, era como uma pessoa que sempre respeitou os outros, que foi respeitada, que embora com uma origem humilde e até de alguma privação, sempre se orgulhou disso, e soube agarrar as oportunidades que a vida lhe deu, trabalhando muito e lutando pelos sonhos … e, o mais importante, partilhou isso com os outros! Da melhor forma que foi capaz!