terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O nosso chá!






Está quase tudo preparado, mãe. A Chaleira está ao lume, o chá quase pronto.
Pus a mesa com aquele serviço antigo que era da avó, cheio de vestígios das vossas mãos que foram acrescentando importância ao fio de ouro que debrua as peças.
Tenho uma cadeira especial à tua espera. Vais ficar à cabeceira da mesa mãe, lugar que sempre mereceste e que nunca te foi reconhecido. Não te esqueças de trazer os teus poemas para lermos juntas. Se não quiseres cantar para mim o teu fado eu compreendo, falta muita gente na mesa, eu sei. Mas hoje preciso de estar só contigo mãe. Tenho tanto para te dizer de pequenos nadas que vou escrevendo e pintando nesta vida.
Tenho tanto para te escutar mãe. Vem falar-me desse infinito que me espera, que eu tanto anseio e que me tarda. Fala-me desse ser de luz que está a chegar à nossa casa, outra vez, mãe. Será, mãe? Será que volta o amor que se gerou no teu ventre para renascer agora, como dádiva, para nós?
Se soubesses a falta que me faz uma tarde contigo. Um abraço teu, o teu olhar de verde mar, as tua mãos. O teu amor.
O chá está pronto. Comprei os biscoitos com amêndoa, sei que gostas. Está tudo quase pronto mãe. Só faltas tu. Nem das violetas me esqueci. Já estão aqui!
Não demores, por favor. Vem lanchar comigo mãe, antes que anoiteça de novo o meu espírito e o universo te prenda numa escuridão qualquer.


 Ana homem de albergaria

domingo, 21 de dezembro de 2014

LETRAS ESQUECIDAS















Letras esquecidas num pensamento parado, forçam um equilíbrio ébrio, inconsequente. Olham o abismo de alto, inseguras. Incapazes de se fazerem palavra. Nada sabem de ser com outro ser. Nada sabem de ser mais que ser só. Nada sabem da razão de ser além de ser dor em solidão. Mas agitam-se para se tocarem em instantes de intuitivo desejo, efémera união. Atomizadas na sua inconsciência relacional, tornam-se inúteis. Apenas se iludem num narcisismo burlesco, exorcizando toda a intencionalidade de se agregarem em palavras saciadas de sentimentos. Nada sabem do fluido vital. Nada sabem do poema.



ana homem de albergaria

terça-feira, 20 de maio de 2014

DESISTIR?!

“DESISTIR" eis a palavra que pensei terem aniquilado no poço sombrio das tentações. Uma praga. Parasita que revisita e se aproveita sem pudor de quem a repele. Gládio do derradeiro duelo entre a força moribunda e a última esperança. Veneno de Sócrates dado ao animal que não se (re) conhecendo bebe, por ter sede, a cicuta fatal.

 ana homem de albergaria

sábado, 1 de fevereiro de 2014

INTIMIDADE













Intimidade

Habitáculo da existência, o interior, 
onde se molda a forma da vida, em colos de recolhimento. 
Paredes que falam de toques de mãos construtoras de possíveis.
Fés condutoras de valores que ficam impregnados nas cores indefinidas dos mistérios. 

Casas paradas no movimento do tempo.Tradições que gritam em silêncio. 
Segredos desvendados pela espátula, que acrescenta cor raspando a tela da humanidade.
É lá dentro que nos despimos “dos outros” e vivemos a liberdade (i)limitada do “Eu”,
que se reencontra no voo do olhar que se desprende do beiral de uma janela com grades; num jardim babilónio; num mar de sentimentos mesclados de verdes azuis esperança.
E, quantas vezes, no cinza e no preto da dor de “ser” tão-somente abandono, esquecimento.
E vivemos o movimento de olhar de dentro para fora, maiêutica socrática, busca da verdade!
Procura do nosso lugar, imersão no “Ser” mais profundo.
Intimidade que sendo só nossa, constrói ela mesma a história do mundo!

ana homem de albergaria
Março/2013

domingo, 29 de setembro de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013

INTIMIDADES - EXPOSIÇÃO DE PINTURA





















Exposição Intimidades
de: Ana Homem de Albergaria
Inserida no projeto: Interioridades
Maio/Junho 2013 
Museu Dom Diogo de Sousa
Braga / Portugal

(cada tela: 40 euros, 30cm x30cm)
Interessados é favor deixar comentário com contacto.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Calou-se o Poeta














Olhou para dentro de si.
Procurou nos batimentos da vida

Um compasso partilhado a ritmo certo.

Enfrentou a tempestade das palavras,

Relâmpagos de um Olimpo sem Deuses.

E o poeta abafou a sua voz

No vácuo da presença inanimada.

No movimento do nada.

Nas sombras solitárias da noite.

Foi quando o céu chorou a nuvem da palavra indesejada,

Na rima emparelhada de amor com dor!





Ana Homem de AlbergariaVer mais

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

ESPELHO MEU


Espelho meu


Doí em mim, como sádica.

Mordi os lábios antes de pronunciar

Qualquer sentido do impossível!

Apertei tantas vezes as minhas mãos
A favor de uma vontade impaciente.

Acorrentei tantos passos,

Por medo de serem falsos.

Amordacei a palavra “amo-te”, a única que aprendi.

Procurei-me, como uma perdida,

Na neblina que anoitecia nos teus olhos.

Oh loucura pura! O teu olhar!

Espelho meu, espelho meu… onde nunca me vi!

Eu estive sempre aqui, nesta sôfrega quietude.

E a gritar por nós, como louca, ensurdeci!


Ana Homem de Albergaria

domingo, 18 de novembro de 2012

IMORTALIDADE


Imortalidade




Corpo finito tecido a carne mortal,

Frágil ser que não é sem mim!

Limite onde me sinto contornos.

Pedra em movimento

...Polida pelo tempo

Que vai sendo pó,

Pó , apenas pó…

E eu toda eu,

Luz e escuridão

Paz e guerra

Ceu e chão

Coragem e medo

Saúde e dor

Amor… desamor

Abraço e solidão.

E eu neste corpo na estrada,

Conduzido por mim,

Rumo ao nada!

E eu toda eu

Amanhã infinito

Eterna caminhada!



Ana Homem Albergaria


sexta-feira, 11 de maio de 2012


 
 
Não te movas


O pensamento precisa voar…

Fixa o teu olhar

No ponto de encontro com o teu limite.

Fica aí! Nessa estática liberdade!

Quanto do teu mundo espera por essa pausa?

Por esse olhar sem pressa num futuro disperso?

Por esse rosto sem alegria nem dor?

Sentir -te apenas… ser universo!

Fica aí…

Nesse tempo sem tempo

Nesse ficar e ir, sem perto nem longe.

Nesse espaço sem coordenadas,

Onde o corpo se abandona

Às partidas e chegadas.

Fica …

Quanto de ti descansou em ti, até hoje?

Enquanto o pensamento voa

O mundo segue… corre aos ventos

Grita aos seculos as conquistas e derrotas

Enriquece, empobrece… passa fome… envelhece!

Mas tu, podes ficar…

Não te movas. Respira apenas!

Fica aí… em ti!




ana homem albergaria
11.05.2012

terça-feira, 6 de março de 2012

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sonho Real

















Afago quente no Outono da minha vida
Aconchegando o meu sonho mais real,
Trazias flores etéreas por abrir,
Fechadas em tuas mãos, para me dar.
O vento acalmou e assim ficaram,
Sem nunca o seu perfume me chegar.
De que jardim colheste essas flores?
Que coração, da terra as quis tirar?
Esperei eu uma semente de amor,
Que não existe.
Umas mãos abertas…
Nas quais vejo apenas
Um bouquet de flores fechado e triste.
Mas o sonho quis continuar…
Porque nele estavas lá.
E quando me chegava aos teus lábios
Bebia neles um desejo ardente
De te sentir ali, não mais ausente.
Mas mesmo antes do sonho terminar
Falaste-me, sem palavras, que não estavas.
E foste te afastando, estando ainda
Neste sonho que fui nada,
E tu o que sonhei, minha alvorada!
Não sabes quanto de ti ficou em mim.
Nem eu sei quanto te dei, ou recebi.
Sei agora que não fiquei nem parti.
Neste sonho mal sonhado, mal vivido
Fomos segundos no contínuo de uma vida…
Somente um beijo de reencontro e despedida!


ana homem de albergaria

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A COR AUSENTE




Já me misturei com tantas cores,
Nesta vida, tantas vezes!
O preto e o branco,
Nos invernos frios,
Acinzentados pela solidão
Que escorregava em gotas de orvalho,
Nos vidros gelados da minha janela.
Já me agarrei ao vermelho e ao amarelo,
Encarnando a força e a garra
Necessária a uma tourada,
De capa na mão com que cobri a dor alaranjada,
Na tentativa de matar a saudade,
De um tempo em que não restou nada!
Já subi pelo azul mais celeste
e pelo verde mais agreste,
Elevando-me em ilusões flutuantes,
Nuvens etéreas, neblinas de contos de fadas,
Lagos e príncipes, florestas encantadas!
Já misturei a cor magenta de um fim de tarde
Com o castanho dos meus olhos,
Num abraço á beira-mar , que nunca se sentiu,
Num regresso de “alguém”,
Que sonhado em mim
Nunca existiu!


Ana Homem de Abergaria

domingo, 15 de janeiro de 2012

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Olhos Mar













Havia um mar nos teus olhos
Onde eu navegava sem medo,
Segura de nós!
Sentia neles a brisa de um afago…
O sal da paixão...
De te saber onda
Que vinha beijar esta ilha
Inundada por ti…
Meu coração!


ana homem de albergaria

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012











Não sei se já chegaste
Ou se estás a chegar…
És como a minha história
Que não escrevi mas que acontece
Em cada dia, em mim!
Acordo para memórias que não tenho
E vivo-as contigo num sonho por realizar.
No caminho que faço sozinha
Encontro vida verde a brotar…
Há sempre um trilho que se descobre,
Quando se caminha Lado a lado
Com a promessa fresca de amanhecer
Num futuro de Amor, já semeado.
Não espero por ti… Já te encontrei!
Mas não sei se já chegaste
Ou se estás a chegar?!
Vens meu Amor?
Vais ficar?

Ana Homem de Albergaria

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mulher


















O relógio antigo de madeira envelhecida,
Pelo tempo que o ilude de vida,
Lamenta-me o entardecer dos dias.
... É sempre tarde!
Quando o sol me desperta para quem sou…
Corro para o espelho, em busca de um rosto jovem
Que descanse um pouco na suavidade hidratante
Das minhas mãos cheias de água corrente…
Como se fosse possível fazer parar um rio nas rugas da idade,
Ou lavar a historia da própria Humanidade.
Das tranças da minha infância
Recordo apenas os sonhos, que subiam por elas
E me ensinaram a esperar mais da vida
E a dar Sempre mais e mais… de mim,
Aos outros (supostamente iguais).
E penso: Os Outros!
Então… enxugo os pensamentos na manta de retalhos
Que “eles” fizeram com as horas dos meus dias.
Volto a correr de braços estendidos em direcção á mãe
Que nasceu na era em que o meu ventre quis ser futuro.
E faço dos meus braços asas e voo sobre os muros,
E faço dos meus olhos esperança e conto estrelas brilhantes
Nos céus mais escuros.
De repente… chamam por mim
Gritam sempre pelo meu nome em outro lugar…
Onde a idade pesa,
Onde a saúde falta,
Onde é preciso levar alguém pela mão
Onde o saber urge na escola da vida,
Que não ensina que existe trabalho
Que não é profissão!
E todo o conhecimento e experiencia
Desta operária de emoções,
Se misturam em conflito
Por entre livros e universidades
Num século de oportunidades
Que me escorregam pelas mãos!
E tenho de estar onde não estou,
Saber o que não sei,
Ser o que não sou!
É sempre tarde, para ser Mulher!
Mas quando o sol se despede anunciando a partida,
Esperam ainda que o espelho reflicta a minha beleza!
E de cabeça sempre erguida mas com os olhos lassos de tristeza,
Olho de novo o relógio antigo de madeira envelhecida,
E sinto que não sou eu que dou corda á minha vida!


ana homem de albergaria

terça-feira, 1 de novembro de 2011