terça-feira, 20 de abril de 2010

Abraço




Abraço

Por que me olha assim?
Como se ao olhar nada visse
E ao ver melhor nada sente.
É nesse olhar de passagem
Que me torno transparente.
Não percebe que já me esqueci?
Não existo mais aqui!
O que fui já doei ao passado
E o que sou já roubei ao futuro
Projecto inacabado
De um abrigo sem tecto
Num rio sem ponte
Do lado de cá de um muro.
As pedras que pisa,
Cama fria e dura
Em que me deito,
Já não falam de mim.
Não percebe que quem fui
Já não vive?
E quem vive
Não quer ser olhado assim?!
Porque só fala de mim,
como parte de um todo,
esquecido,
num buraco sem fim?
Porque não fala para mim?
Sobre o que poderei ser ainda,
Mesmo trazendo no rosto o cansaço,
Se sentir um novo olhar,
E o abrigo aconchegado
de um abraço?

ana claudia albergaria

4 comentários:

José Rui Fernandes disse...

Ana Cláudia, o que escreves em forma de poema é uma profunda reflexão. Tantos olhares nos interpelam que nós não sabemos olhar, não sabemos entender, não ousamos abraçar...

Um beijo

Maria Mamede disse...

Olá linda, boa tarde.
Obrigada pelo que me enviou e que ainda não tive oportunidade de agradecer doutro modo.
Este seu Poema dói!!!!
Bjs.
M.M.

Aquarela disse...

É mesmo para doer!!!

obrigada por tudo!
bjs
claudia

pin gente disse...

dureza... muita!
e verdade pura.

quanto vale um abraço?
quanto vale uma troca de olhares?
quanto vale um gesto de ternura?


deixo um abraço
luísa


ps - vim do "eu conto"