Está quase tudo preparado, mãe. A Chaleira está ao lume, o chá quase pronto.
Pus a mesa com aquele serviço antigo que era da avó, cheio de vestígios das vossas mãos que foram acrescentando importância ao fio de ouro que debrua as peças.
Tenho uma cadeira especial à tua
espera. Vais ficar à cabeceira da mesa mãe, lugar que sempre mereceste e que
nunca te foi reconhecido. Não te esqueças de trazer os teus poemas para lermos
juntas. Se não quiseres cantar para mim o teu fado eu compreendo, falta muita
gente na mesa, eu sei. Mas hoje preciso de estar só contigo mãe. Tenho tanto para
te dizer de pequenos nadas que vou escrevendo e pintando nesta vida.
Tenho tanto para te escutar mãe.
Vem falar-me desse infinito que me espera, que eu tanto anseio e que me tarda.
Fala-me desse ser de luz que está a chegar à nossa casa, outra vez, mãe. Será, mãe?
Será que volta o amor que se gerou no teu ventre para renascer agora, como
dádiva, para nós?
Se soubesses a falta que me faz
uma tarde contigo. Um abraço teu, o teu olhar de verde mar, as tua mãos. O teu
amor.
O chá está pronto. Comprei os biscoitos com amêndoa,
sei que gostas. Está tudo quase pronto mãe. Só faltas tu. Nem das violetas me
esqueci. Já estão aqui!
Não demores, por favor. Vem
lanchar comigo mãe, antes que anoiteça de novo o meu espírito e o universo te prenda
numa escuridão qualquer.
Ana homem de albergaria
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